Antes de entrar, me certifiquei que não havia ninguém
espreitando no corredor, não havia, certo, adentrei no quarto, e suavemente
fechei a porta, não queria chamar a atenção de ninguém, apertei o interruptor,
eu sabia onde era, seu modelo de apartamento era muito parecido com o meu, mas
nada, estávamos sem luz, eu não aprendo nunca, acendi meu isqueiro e observei a
sala, possuía uma velha televisão, e um sofá que algum dia fora de cor magenta,
havia alguns quadros de Van Gogh, e um estante em uma modelo antigo, repleta de livros, principalmente livros
históricos, e religiosos, certamente era um homem fervoroso. Eu estava
observando minunciosamente os detalhes quando o gato me chamou, ele estava no quarto,
segui por um corredor vazio, completamente antiquado, até que encontrei o gato,
estava arranhando a portinhola de um criado mudo com uma vela sobre uma xícara,
na qual acendi, o quarto estava organizado, apesar de um pouco escuro, não
possuía nenhuma decoração, além de um armário com a porta defeituosa que estava
entreaberto, e um cama simplória, com lençóis gastados, fui até ao criado mudo,
me sentei no chão a sua frente, e abri a portinhola, havia alguns envelopes de
cartas com destino ao exterior, onde era o epicentro da guerra, estranhei, me
relutei a verificar o conteúdo, retirei os envelopes, e encontrei uma caixa,
com certa quantidade de poeira sobre ela, e assim como as cartas possuía o
mesmo destinatário, alguém com um nome impronunciável para mim, notei que ela
estava aberta, e sem pudor o qualquer censura, abri a caixa instintivamente.
Na caixa possuía uma folha escrita, era uma carta, estava
em uma língua estrangeira, na qual eu conhecia apenas alguns verbos e
substantivos, suficientes para que eu compreendesse algo sobre do que se
tratava, era uma carta de despedida, para seu irmão, foi o que pude compreender
da mesma, essa carta não havia sido entregue, mas por quê? Nem essa carta,
muito menos todas as outras. Mas algo além disso me chamou a atenção, era um
embrulho dentro da caixa, eu estava fervendo de curiosidade, sim, eu sou uma
pecadora, sei que não deveria fazer isso, ir mexendo em coisas dos outros, mas
eu não podia me segurar, peguei o embrulho, segurei-o, estava embrulhado em
papel kraft, já envelhecido, me pergunto a quanto tempo estava embrulhado e
guardado, coloquei meu dedos entre as frestas, para retirar a cola, mas fui
interrompida pelo gato que começou a andar sobre mim, e se deitou em meu colo,
após essa breve interrupção, segui meus movimentos, e o desembrulhei, era um
livro, como eu esperava, mas era um livro sagrado, de uma religião abominada
por muitos, nesse instante, algumas ideias começaram a se formar em minha
mente. Vi as luzes dos postes de luz se
acenderem, e iluminarem o chão através das frestas, e em seguida ouvi o barulho
da porta do apartamento ao lado se abrir, eu devia sair logo daquele local,
peguei tudo que estava dentro da gaveta, e a guardei na bolsa, o gato se
levantou, roçou seu corpo contra minha coxa, e seguiu trotando para fora da
quarto e desaparecer, me levantei, apaguei a vela, e segui andando para a saída
em passos leves, girei a maçaneta lentamente, olhei para o corredor, estava
vazio, fechei a porta cuidadosamente atrás de mim, e atravessei o corredor até
a escada, onde subia o ultimo lance até meu andar.
Logo estava em casa, e sentia minha respiração pesada,
coloquei minha bolsa sobre a mesa, e fiquei a fitando, e matutando sobre o que
havia acontecido.
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