segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Taste

Virei a esquina, me sentia ainda um pouco desnorteada, apoiei-me um pouco sobre a parede de tijolos de uma livraria que havia aberto a pouco naquela esquina, olhei para o meu reflexo na fachada, via meus olhos profundos, e fortes olheiras, minha boca ressecada, na qual tentei passar a a língua nos lábios, mas de pouco adiantou o local já havia sido ponto de diversos outros comércios, que nunca prosperavam, diziam as boas bocas que era um local maldito. Já não chovia mais, mas a cidade ainda estava totalmente coberta por uma densa nuvem cinza, e as calçadas estavam completamente molhadas, o vento gélido batia contra meu rosto, eu podia senti-lo congelar meu nariz, e fazer com que meus lábios se ressecassem, até racharem, pensei comigo mesma que poderia ter usado um hidratante labial que ganhei há algum tempo, mas eu não me importava muito com esses pequenos detalhes estéticos.
Era uma breve caminhada até o jornal, eu seguia meu rumo com as mãos nos bolsos para que tentasse as manter aquecidas. A fome se acordou dentro de mim, mas não possuía a mínima vontade de comer, apenas acendi um cigarro, e me mantive a caminho. Já me aproximava do edifício, e comecei a bolar um plano para que entrasse sem chamar atenção de ninguém, principalmente um porteiro que havia, era um homem de cabelos cinzas penteados para o lado com algum creme barato sob os fios, e barba mal aparada, ele gostava de ser receptivo demais, e eu podia sentir nele a falsidade, que o escorria à boca, sempre que ele falava algo, arqueava a sobrancelha, fazendo uma feição intimidadora, e falava e gargalhava alto, como se fosse implacável, mas eu sabia suas intenções, era um maníaco que gostava de aparecer para as mulheres, eu me sentia totalmente impotente na presença daquele  homem ameaçador, apenas queria estar o mais longe o possível dele. Eu me esforçava ao máximo para evita-lo, notei que ele estava a conversar com alguma moça, supus que fosse uma jornalista, pelo vestido justo, e o sapato de salto que vestia, ele tentava a impressionar, mas mais parecia um babuíno no cio, era minha deixa, acelerei meus passos, e passei por trás dele, o mais apressadamente possível, cheguei ao elevador, e me sentia aliviada, estava sozinha, respirei fundo e senti um gosto amargo na boca, me virei ao espelho e vi que meus lábios sangravam pelas rachaduras, meus olhos, estavam abatidos, passei a manga de minha blusa por cima na esperança de que limpasse um pouco, não queria parecer uma maluca quando fosse entregar meu trabalho.









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