Estava adormecida, e escutei um barulho irreconhecível
que me despertou de meu sono, acordei assustada, ainda sonolenta, sentia meus
olhos grudados pálpebra com pálpebra, mas me acalmei, supondo que era apenas o
vento que corria contra as frestas da janela, e uivava me chamando para ver as
luzes da noite, me dirigi trôpega então até a janela da cozinha, cogitei
acender a luz, mas imaginei que iria me causar dor nos olhos, então segui
apenas pela iluminação que a lua me proporcionava, cheguei à janela, e empurrei
com mais força para que ficasse completamente fechada, após isso feito, tudo
certo, me direcionei para o quarto andando pelo carpete, passando pela sala de
jantar, me sentia tonta de sono, sentia os olhos mais e mais pesados, até que
de repente, bati meu dedo mínimo na quina da mesa, esbravejei e xinguei calada,
agora com lágrimas nos olhos, irritada segui meu caminho até o quarto.
No quarto eu fiquei de frente para a cama e deixei que
meu corpo caísse desfalecido, e meus olhos se fecharam de súbito, quando estava
quase adormecida escutei novamente um barulho, mas dessa vez com maior
sonoridade, notei que não era no meu apartamento, mas possivelmente no recém
abandonado 302, senti um calafrio me subir a espinha, e fez com que meu corpo
despertasse por inteiro, eu morava no 402, acima do quarto 302. Após algum
tempo de um breve silêncio, pude ouvir o vento uivar, e as paredes estalarem, e
novamente sons vindo do andar de baixo, emudeci, diminui meu ritmo respiratório,
cogitei em verificar o que estava acontecendo, estava com medo demais para
isso, não conseguia mexer nem um músculo se quer para me mover da minha posição
atual, fiquei ali, estática, encoberta com apenas os olhos alertas de fora do
cobertor, espreitando a noite, até que o sol punha-se a se levantar no horizonte,
e os primeiros ruídos matinais de uma segunda feira brotavam, e em fim pude
adormecer.
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