quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Continuação 2 - Sem filtragem.

Após um período cabisbaixa, a multidão já havia se dissipado, então recobrei meu ar, olhei para o céu, o sol parecia tímido e doente, pouco se mostrava estre as densas nuvens negras, e brilhava em branco pálido e opaco. Era inverno, e todas as folhas, caducifólias, bailavam no vento e saíam por aí, sem rumo, ou pretensões, apenas queriam algo a alcançar, seja o que fosse, era algo realmente invejável, a liberdade que a natureza possui.
Decidi então ir para casa, me sentia fatigada, levantei demoradamente e segui pelos caminhos do parque até uma saída que me deixasse mais próxima do meu apartamento. Fui caminhando pelas ruas vazias e inóspitas de uma capital, faltava apenas virar a rua para que estivesse próxima de meu apartamento, ouvia então um pequeno barulho de sirenes, que aumentavam quanto mais eu me aproximava de casa, e via luzes intercaladas em vermelho refletirem pela rua a atingir as vidraças de uma loja de chocolates em frente, que iluminava todo o local, virei a rua, era um comboio de resgate dos bombeiros, e todos os moradores do edifício na calçada, intrigados, haviam sido obrigados a deixar seus apartamentos, a surpresa viria depois.
Via a agitação em frente ao condomínio, fui me aproximando, com passos lentos e cautelosos, estava apreensiva, não entendia o que estava ocorrendo, todos estavam distantes do prédio, ouvi dizerem que os paramédicos estavam a caminho, podia sentir um leve cheiro de gás doméstico vindo do prédio, estava desnorteada e confusa com a situação, a ambulância chegou e ficamos esperando, via dentro do prédio grande agitação, vultos corriam pela janela, barulhos de passos apressados vinham em direção à saída, então saíram da porta alguns bombeiros na frente abrindo caminho, e atrás havia dois homens segurando um corpo, estava sereno, com semblante adormecido, pude o reconhecer, era o homem do apartamento 302, pouco se via ele, não saía de casa, nunca fizera o menor ruído, não fazia ideia do que ocorrera.
Fui chegando mais próxima da ambulância, e pude prestar atenção na conversa: –Nós encontramos remédios para dormir, a válvula do gás de cozinha estava aberta, e todas as janelas fechadas, quando chegamos, ele já estava apagado, disse o bombeiro para o clínico, o clínico estava com olhos tristes, e olhava para o corpo enquanto media o seu pulso, respirou fundo, suspirou e disse –Está sem pulso, acredito que tenha cometido suicídio ontem, olhei então para aquele corpo sem vida, estirado sereno em minha frente, me senti nocauteada como se tivesse recebido uma pancada na cabeça, por instantes, era como se eu pudesse sentir a dor dele, pronto, foi isso, abalou meu mundo por completo, ele havia tirado a sua própria vida.


Depois de ouvir isso, me recolhi para um canto escuro da rua para me esconder, estava sem forças, não conseguia pensar em nada, nem em acender um cigarro, ou qualquer coisa, apenas me encostei na parede e lá fiquei, encarando o nada por um longo tempo, até que fosse permitido entrar no edifício. No edifício ouvi a síndica falar com um homem da polícia –Ele tem um irmão em algum lugar, acho que deveríamos notifica-lo, me senti um pouco aliviada por saber que teria alguém para se lembrar dele por algo que não fosse o seu ultimo ato. Subi para o quarto, e me joguei na cama, as badaladas da catedral marcavam 12 horas, adormeci. 

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