Me sinto cansado
de andar desarmado
E sei que não me entendem
por isso me ferem
Não cometi nenhum pecado
Então por que não posso ser amado?
Eu nem ao menos sou um foragido
mas me sinto perseguido
Seja sádico, é essa a condição.
Mate-o!
Caso seja de bom coração
Você que se orgulha de sua virtude
está sozinho
Restou-lhe apenas a solitude
sábado, 26 de dezembro de 2015
quarta-feira, 9 de dezembro de 2015
Do ódio
Viva, sofra
Envelheça, e morra
No caminho, trajetória,
Fuga, escapatória
Reze, guarde
e preze
Homem bicho,
Gente lixo
O desgaste
Faz parte
De todas as incertezas
A morte é a verdade
Envelheça, e morra
No caminho, trajetória,
Fuga, escapatória
Reze, guarde
e preze
Homem bicho,
Gente lixo
O desgaste
Faz parte
De todas as incertezas
A morte é a verdade
sexta-feira, 9 de outubro de 2015
Vida e morte.
Das mentiras
Que contei,
Pouco sei.
Disse que caminhava
Enquanto na verdade,
Me afundava,
E afogava,
Em lágrimas,
Que me apenas
Esvaziavam.
Em mais um trago
Me senti ainda mais
Vago,
Vazio.
Meu âmago,
Um buraco
Existe apenas
O estrago
Da vida
Que me tem,
Matado.
Que contei,
Pouco sei.
Disse que caminhava
Enquanto na verdade,
Me afundava,
E afogava,
Em lágrimas,
Que me apenas
Esvaziavam.
Em mais um trago
Me senti ainda mais
Vago,
Vazio.
Meu âmago,
Um buraco
Existe apenas
O estrago
Da vida
Que me tem,
Matado.
Não é um soneto.
Foi o jeito no qual me tratou
Que me matou
Me fazer de um estranho
Me doía tanto
Agora irei sumir
Vou desaparecer
Não há porque sorrir
Você deve me esquecer
Não desejo saber
Do que tenha a contar
Nada que diga
Irá mudar
O ódio que me corrói
A dor,
Que me destrói
Não tenha esperança
Meu corpo agora avança,
Contra o chão.
Que me matou
Me fazer de um estranho
Me doía tanto
Agora irei sumir
Vou desaparecer
Não há porque sorrir
Você deve me esquecer
Não desejo saber
Do que tenha a contar
Nada que diga
Irá mudar
O ódio que me corrói
A dor,
Que me destrói
Não tenha esperança
Meu corpo agora avança,
Contra o chão.
domingo, 4 de outubro de 2015
Matutação
Antes de entrar, me certifiquei que não havia ninguém
espreitando no corredor, não havia, certo, adentrei no quarto, e suavemente
fechei a porta, não queria chamar a atenção de ninguém, apertei o interruptor,
eu sabia onde era, seu modelo de apartamento era muito parecido com o meu, mas
nada, estávamos sem luz, eu não aprendo nunca, acendi meu isqueiro e observei a
sala, possuía uma velha televisão, e um sofá que algum dia fora de cor magenta,
havia alguns quadros de Van Gogh, e um estante em uma modelo antigo, repleta de livros, principalmente livros
históricos, e religiosos, certamente era um homem fervoroso. Eu estava
observando minunciosamente os detalhes quando o gato me chamou, ele estava no quarto,
segui por um corredor vazio, completamente antiquado, até que encontrei o gato,
estava arranhando a portinhola de um criado mudo com uma vela sobre uma xícara,
na qual acendi, o quarto estava organizado, apesar de um pouco escuro, não
possuía nenhuma decoração, além de um armário com a porta defeituosa que estava
entreaberto, e um cama simplória, com lençóis gastados, fui até ao criado mudo,
me sentei no chão a sua frente, e abri a portinhola, havia alguns envelopes de
cartas com destino ao exterior, onde era o epicentro da guerra, estranhei, me
relutei a verificar o conteúdo, retirei os envelopes, e encontrei uma caixa,
com certa quantidade de poeira sobre ela, e assim como as cartas possuía o
mesmo destinatário, alguém com um nome impronunciável para mim, notei que ela
estava aberta, e sem pudor o qualquer censura, abri a caixa instintivamente.
Na caixa possuía uma folha escrita, era uma carta, estava
em uma língua estrangeira, na qual eu conhecia apenas alguns verbos e
substantivos, suficientes para que eu compreendesse algo sobre do que se
tratava, era uma carta de despedida, para seu irmão, foi o que pude compreender
da mesma, essa carta não havia sido entregue, mas por quê? Nem essa carta,
muito menos todas as outras. Mas algo além disso me chamou a atenção, era um
embrulho dentro da caixa, eu estava fervendo de curiosidade, sim, eu sou uma
pecadora, sei que não deveria fazer isso, ir mexendo em coisas dos outros, mas
eu não podia me segurar, peguei o embrulho, segurei-o, estava embrulhado em
papel kraft, já envelhecido, me pergunto a quanto tempo estava embrulhado e
guardado, coloquei meu dedos entre as frestas, para retirar a cola, mas fui
interrompida pelo gato que começou a andar sobre mim, e se deitou em meu colo,
após essa breve interrupção, segui meus movimentos, e o desembrulhei, era um
livro, como eu esperava, mas era um livro sagrado, de uma religião abominada
por muitos, nesse instante, algumas ideias começaram a se formar em minha
mente. Vi as luzes dos postes de luz se
acenderem, e iluminarem o chão através das frestas, e em seguida ouvi o barulho
da porta do apartamento ao lado se abrir, eu devia sair logo daquele local,
peguei tudo que estava dentro da gaveta, e a guardei na bolsa, o gato se
levantou, roçou seu corpo contra minha coxa, e seguiu trotando para fora da
quarto e desaparecer, me levantei, apaguei a vela, e segui andando para a saída
em passos leves, girei a maçaneta lentamente, olhei para o corredor, estava
vazio, fechei a porta cuidadosamente atrás de mim, e atravessei o corredor até
a escada, onde subia o ultimo lance até meu andar.
Logo estava em casa, e sentia minha respiração pesada,
coloquei minha bolsa sobre a mesa, e fiquei a fitando, e matutando sobre o que
havia acontecido.
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
O gato
Todos
calados, não ousávamos sequer uma troca de olhares, me sentei onde que não
tivesse que compartilhar assento com ninguém, assim como todos os outros, nos
sentíamos confortáveis assim, me sentia um pouco incomodada pelo silêncio, mas certamente era mais agradável do que se existissem uma falatória. A atmosfera era tensa, o único barulho que podíamos ouvir era da lataria do ônibus
se chocando uma contra a outra enquanto o ônibus seguia pelas ruas imperfeitas.
A medida que o ônibus seguia seu rumo, podia se notar o céu cinza, que de tempos em tempos era clareado por um relâmpago, que rasgava o céu, e iluminava todo o horizonte, eventualmente a chuva veio, mas dessa vez, forte, e impiedosa, se atirava com força contra as vidraças dos ônibus, produzia um som ensurdecedor ao se chocar contra tudo o que cobria a crosta terrestre, podia sentir que as pessoas no ônibus estavam tensas, principalmente eu, tinha medo da mesma, medo da fúria da natureza, na qual é a forma mais antiga e sábia de vida, a chuva os deixou apreensivos, então vi um enorme relâmpago cruzar o céu, no formato de veias, e em seguida veio um trovão, estrondoso, fez com que a terra tremesse, e pude ouvir os gritos de sustos, meus nervos e músculos se contraíram, meu coração bombeava sangue como se fosse o fim do mundo, minha respiração ficou ofegante, eu estava muito assustada, minha parada se aproximava, e a chuva se mantinha, impiedosa contra a humanidade.
A medida que o ônibus seguia seu rumo, podia se notar o céu cinza, que de tempos em tempos era clareado por um relâmpago, que rasgava o céu, e iluminava todo o horizonte, eventualmente a chuva veio, mas dessa vez, forte, e impiedosa, se atirava com força contra as vidraças dos ônibus, produzia um som ensurdecedor ao se chocar contra tudo o que cobria a crosta terrestre, podia sentir que as pessoas no ônibus estavam tensas, principalmente eu, tinha medo da mesma, medo da fúria da natureza, na qual é a forma mais antiga e sábia de vida, a chuva os deixou apreensivos, então vi um enorme relâmpago cruzar o céu, no formato de veias, e em seguida veio um trovão, estrondoso, fez com que a terra tremesse, e pude ouvir os gritos de sustos, meus nervos e músculos se contraíram, meu coração bombeava sangue como se fosse o fim do mundo, minha respiração ficou ofegante, eu estava muito assustada, minha parada se aproximava, e a chuva se mantinha, impiedosa contra a humanidade.
Eu
havia chegado em meu destino, não possuía nada que pudesse me proteger da chuva
além de um jornal velho que encontrei no ônibus, não possuía escolha, o coloquei sobre a cabeça, me
preparei e corri em direção à portaria, entrei, fechei a porta atrás de mim, sentia um frio repentino, e pontual, onde as gotas me acertaram, os relâmpagos clareavam o corredor, estava muito escuro, e era pouco mais de 17
horas, apertei o interruptor, e nada, tentei novamente, e nada, ótimo,
estávamos sem energia, fui para o elevador, tentei o chamar, idiota, estamos
sem energia, em o que eu estava pensando? Deveria subir pelas escadas, me
desanimei, tentei me encorajar dizendo que são apenas quatro andares, respirei
fundo, levantei meu peito, e comecei a escalda, estava apenas no 2° andar, e já
me sentia fatigada, tinha certeza que eram os cigarros, eu realmente deveria
parar, ia jogando uma perna na frente da outra, em um movimento robótico, e algo
me chamou atenção, era um ruído, não era a chuva, nem os trovões, e a cada degrau
ele ficava mais alto, após alguns degraus pude reconhecer, era um miado,
cheguei no terceiro andar, e pude ver, com a luz do meu isqueiro, era o gato, pobre gato maltrapilho, deixado pela humanidade,
esse era o nome dele, o gato, era o gato de algum morador, ou da região, mas
ele sempre estava por lá, acho que ele gostava de mim, ele me viu, e pôs-se a
miar, então comecei a me mover em sua direção, e ele ia se movendo também, na
direção de alguma porta, a medida que me aproximava, pude reconhecer, era o quarto
302, o gato me olhou, e começou a arranhar a porta do quarto, que se abriu, ele
foi entrando no quarto, eu o segui, seria o gato do falecido?
quinta-feira, 1 de outubro de 2015
Resto
Obviamente
eu não escreveria sobre a guerra, eu a odiava, não saberia sobre o que falar, a
não ser de ódio, e eu não gostaria de espalhar ódio para os que leem o jornal, todos
já estavam contaminados demais por ele, todos nós havíamos perdido demais com a
guerra, inclusive eu.
Segui
meu rumo, no elevador me sentia aflita, queria sair logo daquele lugar, queria
respirar, não aguentava mais, me sentia totalmente presa, cheguei no térreo,
ouvi alguém me chamar, certamente era o porteiro, dei as costas e fingi não o
escutar, cheguei na rua às pressas, respirei fundo, e comecei a caminhar sem
rumo.
Eu
estava no centro da cidade, podia ouvir os sons das buzinas, de pessoas
conversando, do comércio, de gritos, mas a cidade parecia vazia, os prédios
falavam, as paredes gritavam, gritavam com cartazes, pichações, era como um
grande coração pulsando, um coração cinza, e deteriorado. Toda aquela situação,
a atmosfera pesava sobre mim, e me sufocava, segui para a parada de ônibus mais
próxima, e fiquei a esperar, sentia frio e nervosismo, resolvi acender então um
cigarro, meus dedos trêmulos acendiam o isqueiro na rua vazia, dei uma longa
tragada enquanto fitava o céu, me lembrei de minha mãe, ela sempre teve
grandiosos planos para mim, mas eu não poderia ser o que ela queria, eu não era
o suficiente, eu a decepcionei, isso era algo que me chateava, minha mãe fora uma
grande mulher, e todos criaram expectativas sobre mim, mas eu não sou ela, e
nunca vou ser, eu sou apenas eu, e isso é tudo o que eu posso ser, nada além de
mim.
Carros,
e pessoas passavam, mais cinzas do que nunca, o mundo era sem cor. Com o tempo meu ônibus chegou, e eu subi, o motorista me
olhou de cima a baixo, com olhos que demonstravam algum tipo de perversão, me
senti enojada, homem imundo, o encarei fazendo cara de desdém, e ele apenas
virou o rosto e deu de ombros, a cobradora era uma mulher com um semblante
infeliz, não olhava nos olhos das pessoas, se restringia a olhar apenas para o
dinheiro, e nada mais, ela certamente odiava estar ali, haviam poucas pessoas
no ônibus, e as poucas pareciam todas ausentes de suas cascas, avoadas, caladas, fitavam a rua com o olhar
distante, seus corpos estavam presos ao chão, já suas almas e consciências, as levavam para um universo totalmente distante, algo somente deles.
terça-feira, 29 de setembro de 2015
Suspiro.
Já estava próxima do andar em que eu devia descer,
respirei fundo, estava um pouco insegura de minha crônica, foram dias árduos,
de pouca produção e inspiração, estava sendo consumida por sentimentos desvirtuosos. O elevador fez a pausa, desci, respirei fundo, fitei o caminho à minha frente, havia um longo
corredor com inúmeras mesas e pessoas trabalhando. Segui pelo corredor, passando por sala a sala, alguns
davam uma breve fitada em mim com olhos despreocupados. e voltavam aos seus afazeres, mas a maioria não
se dava ao luxo de me notar, estavam todos muito ocupados, eu podia ouvir
algumas palavras fugirem dos diálogos, elas me acertavam como marretadas em minha cabeça, principalmente a palavra “guerra”, era do que
todos falavam, sobre a destruição, caos, e sobre a morte, tentei ocupar minha mente para que
eu não prestasse atenção nessas palavras, não queria saber disso, não
queria ouvir sobre, me chateava, apenas de ouvir me subia uma ânsia pela garganta, sufocante, sentia vontade de chorar, queria correr para o banheiro e me esconder, mas me mantive, tive compostura.
Cheguei em meu destino, uma sala com porta de vidro, com uma persiana já amarelada pela ação do sol, ouvi
um grito de lá de dentro, “Que se dane os malditos, quero notícias, agora! Mas
que droga, esses incompetentes!”, houve um suspiro alto, e alguns murmúrios
baixos, e se fez silêncio, era minha hora de entrar em cena, bati suavemente na
porta, e houve um grito “Entre!”, levei um susto, e institivamente tirei minha
mão da porta, mas lentamente a coloquei lá novamente, e vagarosamente abri a
porta, ouvi então: “Ah! É você, sente-se, sente-se! ” me sentei – O que temos
para hoje? – Perguntou ele, entreguei a ele os papéis, ele os pegou e começou a
ler, após algum tempo, ele disse: “Ótimo, será publicado.” Suspirei aliviada,
ele me olhou e perguntou “Quem sabe talvez você possa fazer uma crônica a
respeito da guerra?” “Bom, tenho que a dispensar agora, pois tenho uma
importante reunião agora, de todo modo, foi ótimo a ver, até mais, aliás, sua mãe ficaria muito orgulhosa de você.” "Duvido", pensei comigo mesma.
Saí novamente para o corredor.
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
Taste
Virei a esquina, me sentia ainda um pouco desnorteada, apoiei-me um pouco sobre a parede de tijolos de uma livraria que havia aberto a pouco naquela esquina, olhei para o meu reflexo na fachada, via meus olhos profundos, e fortes olheiras, minha boca ressecada, na qual tentei passar a a língua nos lábios, mas de pouco adiantou o local já havia sido ponto de diversos outros comércios, que nunca prosperavam, diziam as boas bocas que era um local maldito. Já não chovia mais, mas a cidade ainda estava totalmente coberta por uma densa nuvem cinza, e as calçadas estavam completamente molhadas, o vento gélido batia contra meu rosto, eu podia senti-lo congelar meu nariz, e fazer com que meus lábios se ressecassem, até racharem, pensei comigo mesma que poderia ter usado um hidratante labial que ganhei há algum tempo, mas eu não me importava muito com esses pequenos detalhes estéticos.
Era uma breve caminhada até o jornal, eu seguia meu rumo com as mãos nos bolsos para que tentasse as manter aquecidas. A fome se acordou dentro de mim, mas não possuía a mínima vontade de comer, apenas acendi um cigarro, e me mantive a caminho. Já me aproximava do edifício, e comecei a bolar um plano para que entrasse sem chamar atenção de ninguém, principalmente um porteiro que havia, era um homem de cabelos cinzas penteados para o lado com algum creme barato sob os fios, e barba mal aparada, ele gostava de ser receptivo demais, e eu podia sentir nele a falsidade, que o escorria à boca, sempre que ele falava algo, arqueava a sobrancelha, fazendo uma feição intimidadora, e falava e gargalhava alto, como se fosse implacável, mas eu sabia suas intenções, era um maníaco que gostava de aparecer para as mulheres, eu me sentia totalmente impotente na presença daquele homem ameaçador, apenas queria estar o mais longe o possível dele. Eu me esforçava ao máximo para evita-lo, notei que ele estava a conversar com alguma moça, supus que fosse uma jornalista, pelo vestido justo, e o sapato de salto que vestia, ele tentava a impressionar, mas mais parecia um babuíno no cio, era minha deixa, acelerei meus passos, e passei por trás dele, o mais apressadamente possível, cheguei ao elevador, e me sentia aliviada, estava sozinha, respirei fundo e senti um gosto amargo na boca, me virei ao espelho e vi que meus lábios sangravam pelas rachaduras, meus olhos, estavam abatidos, passei a manga de minha blusa por cima na esperança de que limpasse um pouco, não queria parecer uma maluca quando fosse entregar meu trabalho.
Era uma breve caminhada até o jornal, eu seguia meu rumo com as mãos nos bolsos para que tentasse as manter aquecidas. A fome se acordou dentro de mim, mas não possuía a mínima vontade de comer, apenas acendi um cigarro, e me mantive a caminho. Já me aproximava do edifício, e comecei a bolar um plano para que entrasse sem chamar atenção de ninguém, principalmente um porteiro que havia, era um homem de cabelos cinzas penteados para o lado com algum creme barato sob os fios, e barba mal aparada, ele gostava de ser receptivo demais, e eu podia sentir nele a falsidade, que o escorria à boca, sempre que ele falava algo, arqueava a sobrancelha, fazendo uma feição intimidadora, e falava e gargalhava alto, como se fosse implacável, mas eu sabia suas intenções, era um maníaco que gostava de aparecer para as mulheres, eu me sentia totalmente impotente na presença daquele homem ameaçador, apenas queria estar o mais longe o possível dele. Eu me esforçava ao máximo para evita-lo, notei que ele estava a conversar com alguma moça, supus que fosse uma jornalista, pelo vestido justo, e o sapato de salto que vestia, ele tentava a impressionar, mas mais parecia um babuíno no cio, era minha deixa, acelerei meus passos, e passei por trás dele, o mais apressadamente possível, cheguei ao elevador, e me sentia aliviada, estava sozinha, respirei fundo e senti um gosto amargo na boca, me virei ao espelho e vi que meus lábios sangravam pelas rachaduras, meus olhos, estavam abatidos, passei a manga de minha blusa por cima na esperança de que limpasse um pouco, não queria parecer uma maluca quando fosse entregar meu trabalho.
domingo, 27 de setembro de 2015
Mazela
Estou distante
Deixo o corpo numa estante
As vezes o tiro
Para comer,
Ou para obrigações,
Mas nunca para viver.
Ele está lá,
Mas eu não.
Não me encontro em meio a multidão
Estou em lugar, só meu
Onde não irão me encontrar
Um local, onde a paz venceu
Ás vezes, volto à casca
E vejo que já me basta
Dessa mazela
De não ser nada
Nessa vida que me mata
Deixo o corpo numa estante
As vezes o tiro
Para comer,
Ou para obrigações,
Mas nunca para viver.
Ele está lá,
Mas eu não.
Não me encontro em meio a multidão
Estou em lugar, só meu
Onde não irão me encontrar
Um local, onde a paz venceu
Ás vezes, volto à casca
E vejo que já me basta
Dessa mazela
De não ser nada
Nessa vida que me mata
sábado, 26 de setembro de 2015
Árvore
Nunca mudei
Tampouco irei
Sou como uma árvore
A espera que o inverno acabe
Aguardo por novos tempos
Que trarão novos ventos,
De primavera
Que me cobrirá de novas folhas
Porém essas mesmas se irão,
Juntas ao fim do verão
Serei sempre o mesmo tronco
Inocente,
Ás vezes decadente
Com raízes que criei
Sob tudo o que acreditei
E me fazem reviver
Meus ideais que,
Não deixei morrer.
quinta-feira, 24 de setembro de 2015
Como
Para quem escrevo?
Escrevo para o que vejo
Escrevo sobre o que meus olhos
Desejam dizer
Escrevo para o que não vejo
Escrevo para o que sinto
E minha boca não diz
Sentimentos sem descrição
E gestos sem tradução
Escrevo sobre o que não sei explicar
Escrevo sem onde começar
Muito menos onde acabar
Escrevo não com esperança
De que algo vá mudar
Apenas que eu possa alcançar
O mais profundo do meu ser
Da existência
Do vazio de não saber
Como viver.
Escrevo para o que vejo
Escrevo sobre o que meus olhos
Desejam dizer
Escrevo para o que não vejo
Escrevo para o que sinto
E minha boca não diz
Sentimentos sem descrição
E gestos sem tradução
Escrevo sobre o que não sei explicar
Escrevo sem onde começar
Muito menos onde acabar
Escrevo não com esperança
De que algo vá mudar
Apenas que eu possa alcançar
O mais profundo do meu ser
Da existência
Do vazio de não saber
Como viver.
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
Será o fim?
Em vida
Tive o sol
Como farol
Voei de norte a sul
Em companhia do azul
De leste a oeste
Enfrentei a peste
Do bicho homem
Que constrói e consome
Destrói e some
Com a pureza
De minha natureza
Agora já não posso mais voar
Nem meu canto,
cantar
Me entrego para ti,
ó mãe
Da terra eu vim
E para ela hei de voltar
Sou um serafim
Que deixou de voar
Será fim?
Tive o sol
Como farol
Voei de norte a sul
Em companhia do azul
De leste a oeste
Enfrentei a peste
Do bicho homem
Que constrói e consome
Destrói e some
Com a pureza
De minha natureza
Agora já não posso mais voar
Nem meu canto,
cantar
Me entrego para ti,
ó mãe
Da terra eu vim
E para ela hei de voltar
Sou um serafim
Que deixou de voar
Será fim?
domingo, 13 de setembro de 2015
Poesia ao tempo
Não lhe encontrei
Nas bocas que beijei
Nem teus braços
Em outros abraços
Confesso que senti
Uma dor no coração
Quando te vi
Andando na rua com outra mão
Não me esqueci
Do seu cheiro de sabão
Mas sobrevivi
À nossa separação
Aquele último beijo
Que foi amargo
Ainda faz eco
Em meu lábio
Nas bocas que beijei
Nem teus braços
Em outros abraços
Confesso que senti
Uma dor no coração
Quando te vi
Andando na rua com outra mão
Não me esqueci
Do seu cheiro de sabão
Mas sobrevivi
À nossa separação
Aquele último beijo
Que foi amargo
Ainda faz eco
Em meu lábio
quarta-feira, 9 de setembro de 2015
Rabisco poético.
Não sei porque de poemas
Talvez goste de enfeitar a dor
nesse meu carnaval de letras,
mas já é setembro, meu amor.
Agora em busca de outros solos
Sem ao certo uma trajetória
Talvez os polos,
como uma ave migratória.
Já é chegada a hora,
e como uma flor,
aflora,
Já é primavera, meu amor,
Então, não demora
Talvez goste de enfeitar a dor
nesse meu carnaval de letras,
mas já é setembro, meu amor.
Agora em busca de outros solos
Sem ao certo uma trajetória
Talvez os polos,
como uma ave migratória.
Já é chegada a hora,
e como uma flor,
aflora,
Já é primavera, meu amor,
Então, não demora
Todos, até então.
Era por volta das 2 da manhã, havia perdido a noção de tempo há
muito, eu espreitava desnorteada pela janela observando as luzes nos apartamentos,
e pensava sobre a existência do dono de tal luz que habitava a aquela
distância, instintivamente já estava acendendo mais um cigarro, porém antes de
o colocar na boca, relutei, e jurei que seria o último, já havia fumado outros
19, por você, agora eu tragaria o último, pelo fim, também por relutância, foi
o mais demorado, a noite estava fria, e o sereno corria pelo céu, e se juntava aos
resquícios de lágrimas secas em meu semblante, fingi não me incomodar com
aquilo que me causava certo desconforto na face, me sentia nauseada, e com
forte enxaqueca, possivelmente devido as tristezas que se projetavam no mais
profundo de meu ser durante as horas anteriores, quando me ocorrera a
metamorfose, e que ainda refletiam em minha alma.
Não queria dormir, pois sabia que nunca mais seria a mesma, o que eu era ficou para trás, em um passado agora distante, como se nunca tivesse existido tal ser que um dia fôra eu. Encontrava-me perdida, sentada à cabeceira da cama, agora cabisbaixa, as luzes da cidade pareciam cada vez mais distantes, e turvas, todos já dormiam, exceto os malditos e os miseráveis, estava agora exausta, minha visão além de turva, cambaleava, o sofrimento havia vencido meus limites humanos, e assim mesmo, derrotada pelo cansaço adormeci, como quem já não havia mais vida, dormi mal naquela noite, calafrios percorriam meu corpo, e espasmos me sacudiam a todo tempo.
Acordei ao som das badaladas da catedral, era domingo, dia de missa, fui novamente para a janela ver as crianças irem contra vontade em suas roupas engomadas, eu não me sentia muito diferente delas, era o que queriam que eu fosse, vestindo uma máscara, e fazendo meu reles papel na sociedade, de acordo com o que decidiam que deveria ser. Algo me incomodava, sentia um buraco em meu torso, e sabia que não se tratava de fome, então decidi preparar chá, não tinha apetite apesar de não me recordar quando havia sido minha última refeição. Com o chá pronto, voltei à janela, agora chovia, e observava as pessoas tentarem se esconder da chuva correndo para as marquises, me esquivava de beber o chá, agora já frio o deixei de lado, senti vontade de fumar e me recordei que havia fumado todos os meus maços noite passada, me senti mal por isso, havia jurado que não iria mais fumar, cogitei ir a rua comprar cigarros, porém não possuía disposição alguma para ir ao mercado, e encarar as pessoas, então me deitei novamente encarando o teto branco que possuía algumas rachaduras devido a umidade que as chuvas prolongadas haviam causado.
Não queria dormir, pois sabia que nunca mais seria a mesma, o que eu era ficou para trás, em um passado agora distante, como se nunca tivesse existido tal ser que um dia fôra eu. Encontrava-me perdida, sentada à cabeceira da cama, agora cabisbaixa, as luzes da cidade pareciam cada vez mais distantes, e turvas, todos já dormiam, exceto os malditos e os miseráveis, estava agora exausta, minha visão além de turva, cambaleava, o sofrimento havia vencido meus limites humanos, e assim mesmo, derrotada pelo cansaço adormeci, como quem já não havia mais vida, dormi mal naquela noite, calafrios percorriam meu corpo, e espasmos me sacudiam a todo tempo.
Acordei ao som das badaladas da catedral, era domingo, dia de missa, fui novamente para a janela ver as crianças irem contra vontade em suas roupas engomadas, eu não me sentia muito diferente delas, era o que queriam que eu fosse, vestindo uma máscara, e fazendo meu reles papel na sociedade, de acordo com o que decidiam que deveria ser. Algo me incomodava, sentia um buraco em meu torso, e sabia que não se tratava de fome, então decidi preparar chá, não tinha apetite apesar de não me recordar quando havia sido minha última refeição. Com o chá pronto, voltei à janela, agora chovia, e observava as pessoas tentarem se esconder da chuva correndo para as marquises, me esquivava de beber o chá, agora já frio o deixei de lado, senti vontade de fumar e me recordei que havia fumado todos os meus maços noite passada, me senti mal por isso, havia jurado que não iria mais fumar, cogitei ir a rua comprar cigarros, porém não possuía disposição alguma para ir ao mercado, e encarar as pessoas, então me deitei novamente encarando o teto branco que possuía algumas rachaduras devido a umidade que as chuvas prolongadas haviam causado.
Após um breve período fitando o teto, e tentando desvencilhar minha
mente de traiçoeiros pensamentos, pude notar que chuva havia diminuído seu
ritmo, agora já não agredia as janelas e peitorais, suspirei profundamente e
decidi ir a uma lanchonete próxima, fiz então um esforço enorme e um prolongado
movimento para me levantar da cama, via meu reflexo no espelho, manchas negras
sombreavam meus olhos fundos, vesti uma peça de roupa que pudesse me manter
aquecida, recolhi as chaves e as coloquei no bolso, calcei botas, e tomei o
elevador. No elevador estava sozinha, suspirei e de súbito fechei meus olhos
por alguns instantes, com meus olhos agora abertos novamente, podia ver a
imagem de uma pequena garota, com olhos curiosos que fitavam o chão, enquanto
mordia os lábios, ela parecia um tanto quanto nervosa, após alguns instantes
fitando o chão, ela me disse, sem levantar a cabeça –Do que você tem medo? - Surpresa eu não a
soube responder. –Você tinha em si todos os sonhos do mundo, então por que os
escondeu?, continuou ela. –Por que usa essa máscara?, após essas palavras, me
senti desnorteada, minha visão ficou turva, e me desequilibrei, fiquei apoiada
nas paredes do elevador por um tempo, até me recompor, quando pude me
recuperar, a garotinha já não estava mais lá, eu ainda não compreendera o que
ocorrera há pouco , o que me deixou pensativa, quem seria aquela garota? Por
que havida dito aquilo? Minha mente estava turbulenta, e meu coração estava
disparado, me vi espelho, eu estava pálida, sentia minha boca seca, e uma gota
de suor escorria por minha testa, estava apavorada, saí do elevador ainda
cambaleando e tomei rumo à rua.
Na rua, eu me sentia invisível e indiferente para os outros, passavam
por mim e não me notavam, será que eles me viam como uma pessoa? Alguém com uma
vida tão complexa e conturbada como a deles, eu os via assim, todos pareciam
ocupados demais correndo de um lado para o outro sem ir a lugar nenhum, com
suas vidas e rotinas corridas e estressantes, eu estava totalmente imersa em
meus pensamentos que mal pude notar o quarteirões e pessoas que se passavam,
marcados de humanizações cinzas, viciadas e sujas, e assim cheguei em meu
destino, uma lanchonete antiga, com uma simpática faixada vermelha, agora já
gasta e corroída pelo tempo, não era muito frequentada, e por isso o ambiente
me agradava, me sentei próxima do balcão, e o atendente veio ao meu encontro,
era um rapaz de boa aparência, que sempre me atendia com um sorriso tímido no
canto de sua boca e olhos cortês, ele me perguntou se eu queria o mesmo de
sempre, mas como eu não possuía muitas energias, apenas acenei positivamente
com o cabeça, por algum motivo, eu tinha a boca emudecida, meus pensamentos me
cercavam e me sufocavam, me mantinham calada e cabisbaixa, sentia meus corpo
pesado, tudo girava novamente, nuances
de vermelho e outras cores começaram a se fundir em minha mente, tudo se
embaralhava, quando repentinamente escutei –Aqui está seu pedido! Você está
bem? Parece um pouco pálida, recobrei minha consciência e agradeci, ele se
virou de costas com olhos opacos, como se tivesse presenciado um evento bizarro,
mas eu não entendia o que me acontecia, apenas sentia um mau pressentimento,
então comecei a fitar meu café e sanduíche, resolvi me alimentar. Bebi o café
por inteiro, estava quente e amargo, como eu gostava, desceu minha garganta e
me aqueceu por inteira, mas deixei uma fatia do sanduíche intacto, não estava
com muito apetite, fui então ao balcão para acertar, cheguei lá e a atendente
não pareceu me notar, estava lendo um desses livros comerciais clichês feitos
apenas para ganhar dinheiro, eu tinha uma enorme repugnância por esses livros
que não eram escritos com sangue, e isso me deixou um pouco aborrecida,
então forcei uma tosse, para que ela me notasse, ela fez um "oh"
assim que me viu, era sempre assim, ela sempre desatenta em seu mundo falso, e
eu precisava chamar sua atenção, me sentia humilhada por isso, eu a franzi o
cenho, paguei, e fui embora, sem abrir a boca, estava irritada.
Saindo da lanchonete, cruzei a rua, precisava tomar um caminho
diferente, tinha de ir no mercado comprar cigarros e frutas, em meu rumo havia
uma rua paralela, onde tinha um viaduto, em baixo desse viaduto havia um homem
deitado, ele tinha olhos inexpressivos e desesperançosos fixos em algum ponto
distante, seu rosto era fortemente marcado pelas mazelas de sua vida, aquilo me
chateou muito, pois eu sabia que ele não era o único, pelo mundo todo haviam
pessoas que se escondiam delas mesmas, possuíam vergonha do que eram,
escondiam-se do mundo, do sol, e dos outros, não viviam a vida para que se
fosse vivida, viviam à espera do fim, para que logo a vida os fosse tomada,
pois para eles não havia sentido, a vida não valia a pena ser vivida, aliás, o
que era viver a vida? Isso eu não sabia, acho que nunca saberia, sempre me
perguntava sobre as coisas da vida, e nunca chegara a nenhuma conclusão. Nesse
momento me sentei em uma parada de ônibus, e me lembrei de quando perguntei ao
meu pai qual era o sentido da vida, e ele me respondeu que era ser feliz, ao
menos era o que todos almejavam, desde então nunca mais o perguntei nada, o
achei tolo por acreditar em tal futilidade, cheguei então a conclusão que todos
estávamos à deriva da vida, com perspectivas falsas, senti uma grande
necessidade de mais um cigarro, então segui meu caminho pela rua, que me
parecia torta, e suja.
A mercearia se aproximava, já via na porta o senhor proprietário, era um
homem de idade avançada, com problemas auditivos, que tinha uma cara fechada
para todos, certamente odiava o que fazia, só o fazia por necessidade de
dinheiro, ele se sentava na porta, em uma cadeira de balanço de madeira, velha e marcada pelo descuido do
mesmo, escutando o rádio que era possível se escutar a quarteirões de
distância, que noticiava sobre a guerra, e ele apenas acenava com a cabeça como
se concordasse com o que era noticiado, enquanto fumava seu cachimbo fedorento
, observava a chuva cair, e as pessoas passarem. Perdida em meus pensamentos
novamente me desvencilhei do mundo real, e quando me dei conta havia pisado
numa poça imunda, e notei que o velho me observava com seus olhos que pareciam
esperar por isso há muito tempo, sentia seus olhos rirem de mim, enquanto sua
boca continuava decrépita. Fui me aproximando mais e mais da mercearia, e ele
me acompanhava com os olhos, e se certificou que eu iria sacudir minhas botas
antes de entrar, entrei e ele não disse nada, fui direto para a fruteira, havia
pouca variedade, a guerra estava atrapalhando a produção de alimentos por todo
o país. Eu não concordava com a guerra, sempre acreditei que cada um deveria
fazer o que bem entende sem incomodar o outro, acho também muita tolice tirar a
vida de milhares por apenas pensarem de maneira diferente da sua, era algo que
realmente me deixava chateada, pensar em tirar a vida de alguém que um dia
poderia ser uma pessoa importante para o mundo me deixava realmente magoada,
terminei de escolher as poucas frutas que estava em boas condições, e rumei
para o caixa, a atendente era a mulher do velho, ela era um pouco mais bem
cuidada do que ele, e tinha um semblante agradável, sentia nela uma forte aura
materna, algo que me deixava confortável próxima dela, retruquei o sorriso,
então pedi o maço de cigarros, gostaria
de cigarros Camel, mas não estavam chegando mais ao país, então pedi maço de
Marlboro vermelho --São 6 dólares no total; disse ela, eu acenei com a cabeça e
entreguei o dinheiro, peguei minhas compras e saí pela porta, e pude olhar
pelos ombros que ela ainda se mantinha sorrindo para mim, com seus olhos quase
cerrados, foi algo que me aqueceu o peito de alguma maneira.
Novamente na rua, com suas pichações e imundices, via a chuva carregar
nela sujeiras de meses, na cidade era assim, tudo se corrompia, até mesmo a
chuva, que ao descer das nuvens já era contaminada por detritos que humanos
produzem, e ao chegar ao seu destino, era violentamente rebatida por concretos
cinzentos, as árvores não possuíam espaço para crescer, a natureza não se
proliferava, era completamente rebatida pela humanidade, com esses pensamentos,
decidi passar por um parque que havia não muito longe de onde eu estava,
parques são assim, uma maneira que os homens encontraram de sentirem menos culpados
por corromperem a natureza. Eu gostava da natureza, fazia com que eu me
sentisse conectada com o todo o mundo, com o passado, o presente, e o futuro,
com toda vida que já passou, e passará por nosso planeta, era agradável estar
em meio à natureza, sentia que voltara de onde eu vim.
Me escondi em baixo de uma marquise, para acender um cigarro, mas o
vento forte trazia com ele folhas, ar gelado, e gotículas, que maltratavam meu
fogo. Acendi o cigarro, e dei uma longa tragada, sentia o sabor adocicado
descer por minha traqueia e passear por meus pulmões, então expeli uma densa
fumaça, que bailou no ar e sumiu junto à paisagem cinza.
Agora
com o cigarro aceso, caminhava para o parque, gostava de ficar com o mesmo por
um tempo parado na boca sem tragar, então o tragava forte, e com a mão esquerda
o tirava da boca, o que me era estranho, tendo em vista que eu sou destra, o
levava até a altura da cintura e batia as cinzas suavemente, e mantinha a
fumaça em minha e boca brincando com ela, até que a expelia lentamente, eu a
gostava de ver subir e desaparecer, e fui assim, tragando até chegar no parque.
O parque não era nenhuma maravilha, ficava em frente à catedral, possuía alguns
bancos com tinta desgastada, uma fonte no centro, alguns brinquedos na areia
para crianças, e tinha boa parte coberta por uma grama sempre bem aparada,
possuía também algumas árvores com folhas dissipadas em seus galhos, já que a
maioria se encontrava no chão, pois a chuva as levara para lá, fui caminhando
pelo parque através de folhas e gramas molhadas e restos de industrializados
até um banco que me dava visão completa da catedral, sentei nesse banco onde eu
podia observar de longe a missa, e acendi um cigarro, usando o fósforo na mão
esquerda também, me sentia uma a anticristo, vilã dos bons costumes, impondo
meus valores imorais e imundos em frente a uma catedral.
Comecei a fitar a igreja, e de minha distância
eu podia ver as pessoas seguindo em filas para receberem a hóstia e a benção,
como porcos caminhando para o abatedouro, me sentia péssima com toda aquela
situação, me sentia péssima por eles, eu não me aclamava ateia, me via como
agnóstica, eu não podia provar nada, mas não acreditava em nenhuma divindade,
achava maior bobagem alguém acreditar em um deus que permitia que o mundo fosse
como é, com guerras, ódio, caos, simplesmente não fazia o menor sentido para
mim, religião deveria ser algo que fosse para pacificar e unir o mundo, não
para o destruir, sempre houveram guerras sem sentido, pelo simples fato de
certo povo não acreditar nos mesmos dogmas de outro , simplesmente não me fazia
sentido, era como um caroço, que me sufocava, e eu não conseguia engolir.
O
vento soprava forte, e maltratava meu cigarro, que queimava com ímpeto, ouvi as
badaladas dos sinos, a missa havia terminado, as pessoas saiam aos montes, e
algumas caminhavam em minha direção, com seus filhos, família, amigos, e
passavam por mim, alguns me olhavam de canto de olho, apenas para me
pré-julgarem, eu não dava bola, e algumas crianças passavam por mim dando
gargalhadas, naquele momento eu me senti muito sozinha, as crianças riam, e os
adultos conversavam entre si, e eu me sentia estranha, algo faltava em mim, eu
era diferente deles, por que eu não poderia ser feliz como eles? Por que não
conseguia rir com eles? Sentia uma súbita vontade de chorar, minha visão estava
agora encoberta de um fluido salgado, que desejava escorrer pelo meu rosto, e
eu pensei para ele –Fique aí, não deixarei que ninguém o veja, então comecei a
fitar meus calçados, para que não notassem meus olhos.
Após
um longo período cabisbaixa, a multidão já havia se dissipado, então recobrei
meu ar, olhei para o céu, o sol parecia tímido e doente, pouco se mostrava
estre as densas nuvens negras, e brilhava em branco pálido e opaco. Era
inverno, e todas as folhas, caducifólias, bailavam no vento e saíam por aí, sem
rumo, ou pretensões, apenas queriam algo a alcançar, seja o que fosse, era algo
realmente invejável, a liberdade que a natureza possui.
Decidi
então ir para casa, me sentia fatigada, levantei demoradamente e segui pelos
caminhos do parque até uma saída que me deixasse mais próxima do meu
apartamento. Fui caminhando pelas ruas vazias e inóspitas de uma capital,
faltava apenas virar a rua para que estivesse próxima de meu apartamento, ouvia
então um pequeno barulho de sirenes, que aumentava quanto mais eu me aproximava
de casa, e via luzes intercaladas em vermelho refletirem pela rua a atingir as
vidraças de uma loja de chocolates em frente, que iluminava todo o local, virei
a rua, era um comboio de resgate dos bombeiros, e todos os moradores do
edifício na calçada, intrigados, haviam sido obrigados a deixar seus
apartamentos, a surpresa viria depois.
Via
a agitação em frente ao condomínio, fui me aproximando, com passos lentos e
cautelosos, estava apreensiva, não entendia o que estava ocorrendo, todos
estavam distantes do prédio, ouvi dizerem que os paramédicos estavam a caminho,
podia sentir um leve cheiro de gás doméstico vindo do prédio, estava
desnorteada e confusa com a situação, a ambulância chegou e ficamos esperando,
via dentro do prédio grande agitação, vultos corriam pela janela, barulhos de
passos apressados vinham em direção à saída, então saíram da porta alguns
bombeiros na frente abrindo caminho, e atrás havia dois homens segurando um
corpo, estava sereno, com semblante adormecido, pude o reconhecer, era o homem
do apartamento 302, pouco se via ele, não saía de casa, nunca fizera o menor
ruído, não fazia ideia do que ocorrera.
Fui
chegando mais próxima da ambulância, e pude prestar atenção na conversa: –Nós
encontramos remédios para dormir, a válvula do gás de cozinha estava aberta, e
todas as janelas fechadas, quando chegamos, ele já estava apagado, disse o
bombeiro para o clínico, o clínico estava com olhos tristes, e olhava para o
corpo enquanto media o seu pulso, respirou fundo, suspirou e disse –Está sem
pulso, acredito que tenha cometido suicídio ontem, olhei então para aquele
corpo sem vida, estirado sereno em minha frente, me senti nocauteada como se
tivesse recebido uma pancada na cabeça, por instantes, era como se eu pudesse
sentir a dor dele, pronto, foi isso, abalou meu mundo por completo, ele havia
tirado a sua própria vida.
Depois
de ouvir isso, me recolhi para um canto escuro da rua para me esconder, estava
sem forças, não conseguia pensar em nada, nem em acender um cigarro, ou
qualquer coisa, apenas procurei encosto em uma parede próxima e lá fiquei,
encarando o nada por um longo tempo, até que fosse permitido entrar no
edifício. No edifício ouvi a síndica falar com um homem da polícia: –Ele tem um
irmão em algum lugar, acho que deveríamos notifica-lo, me senti um pouco
aliviada por saber que teria alguém para se lembrar dele por algo que não fosse
o seu ultimo ato. Subi para o quarto, e me joguei na cama, as badaladas da
catedral marcavam 12 horas, adormeci.
Estava
adormecida, e escutei um barulho irreconhecível que me despertou de meu sono,
acordei assustada, ainda sonolenta, sentia meus olhos grudados pálpebra com
pálpebra, mas me acalmei, supondo que era apenas o vento que corria contra as
frestas da janela, e uivava me chamando para ver as luzes da noite, me dirigi trôpega
então até a janela da cozinha, cogitei acender a luz, mas imaginei que iria me
causar dor nos olhos, então segui apenas pela iluminação que a lua me
proporcionava, cheguei à janela, e empurrei com mais força para que ficasse
completamente fechada, após isso feito, tudo certo, me direcionei para o quarto
andando pelo carpete, passando pela sala de jantar, me sentia tonta de sono,
sentia os olhos mais e mais pesados, até que de repente, bati meu dedo mínimo
na quina da mesa, esbravejei e xinguei calada, agora com lágrimas nos olhos,
irritada segui meu caminho até o quarto.
No
quarto eu fiquei de frente para a cama e deixei que meu corpo caísse
desfalecido, e meus olhos se fecharam de súbito, quando estava quase adormecida
escutei novamente um barulho, mas dessa vez com maior sonoridade, notei que não
era no meu apartamento, mas possivelmente no recém abandonado 302, senti um
calafrio me subir a espinha, e fez com que meu corpo despertasse por inteiro,
eu morava no 402, acima do quarto 302. Após algum tempo de um breve silêncio,
pude ouvir o vento uivar, e as paredes estalarem, e novamente sons vindo do
andar de baixo, emudeci, diminui meu ritmo respiratório, cogitei em verificar o
que estava acontecendo, estava com medo demais para isso, não conseguia mexer
nem um músculo se quer para me mover da minha posição atual, fiquei ali,
estática, encoberta com apenas os olhos alertas de fora do cobertor,
espreitando a noite, até que o sol punha-se a se levantar no horizonte, e os
primeiros ruídos matinais de uma segunda feira brotavam, e em fim pude
adormecer.
Quando
me despertei, era por volta das quatorze horas, sentia fome demasiada, me
levantei de prontidão com minhas pálpebras engomadas uma sobre a outra me
dirigi ao banheiro. O banheiro era frio, e mesmo morando sozinha me trancava
dentro do banheiro, para que a solidão dos outros cômodos não me tirasse a
privacidade, mesmo de dia, a casa era escura, faltavam meios com que a luz
adentrasse, porém para mim era o suficiente, os raios solares que invadiam o
banheiro eram o bastante para que eu pudesse ver meu rosto deformado por horas
seguidas com o mesmo pressionado contra o travesseiro, notava também meu cabelo
espalhado por toda minha cabeça, sem forma alguma, apenas caos.
Decidi
então tomar banho, banhos sempre foram momentos íntimos, não apenas por estar
nua, no banho, eu estava sozinha, despida de roupas, de preceitos, e
influências, era um dos momentos mais profundos de introspecção intimista, onde
eu poderia ser eu mesma comigo mesma, banhos eram longos, me sentia
extremamente bem com a água quente acariciando minha pele delicadamente do pé
até minhas goteiras, e assim como a água caía, eu me afogava em pensamentos, e
por ampla consciência ambiental, fechava a torneira, e me secava, parei em frente ao espelho, eu não gostava nem um pouco de meu corpo despido, via defeitos em cada parte, talvez eu não gostasse muito de me ser.
Saí
do banho, comecei a me aprontar, deveria entregar minha crônica ao jornal até
ás dezesseis horas, me desanimei por apenas pensar em fazer algo em que demandasse minha total administração do tempo. Eu trabalhava para um jornal local, onde publicava crônicas
em dias intercalados, foi uma vaga que consegui por influência de minha mãe,
que costumava a ocupar um dos cargos mais altos no jornal. Como estava indo
entregar meu trabalho, me vesti de forma em que parecesse mais arrumada,
geralmente me vestia como me convinha, mas sempre tratava de parecer mais
cuidadosa quando ia ao jornal, pois era meu sustento. Já tinha tudo em mente,
iria me alimentar, e ir ao jornal em seguida, tudo planejado, terminei de me
arrumar, peguei as chaves, carteira, maço de cigarros, minha pasta, e desci. Na
rua me sentia nauseada ao olhar para o prédio da calçada, suas paredes agora
pareciam escarlates, me lembrara de tudo o que acontecera na noite passada, e
sentia certa pressão nas têmporas, que fez com que me sentisse fraca e desnorteada, com a mão na cabeça comecei a me afastar
lentamente do prédio, até que tomei outra rua.
terça-feira, 8 de setembro de 2015
Continuação. Sem filtragem
Quando me despertei, era por volta das quatorze horas,
sentia fome demasiada, me levantei de prontidão com minhas pálpebras engomadas
uma sobre a outra me dirigi ao banheiro. O banheiro era frio, e mesmo morando
sozinha me trancava dentro do banheiro, para que a solidão dos outros cômodos
não me tirasse a privacidade, mesmo de dia, a casa era escura, faltavam meios
com que a luz adentrasse, porém para mim era o suficiente, os raios solares que
invadiam o banheiro eram o bastante para que eu pudesse ver meu rosto deformado
por horas seguidas com o mesmo pressionado contra o travesseiro, notava também
meu cabelo espalhado por toda minha cabeça, sem forma alguma, apenas caos.
Decidi então tomar banho, banhos sempre foram momentos íntimos,
não apenas por estar nua, no banho, eu estava sozinha, despida de roupas, de
preceitos, e influências, era um dos momentos mais profundos de introspecção
intimista, onde eu poderia ser eu mesma comigo mesma, banhos eram longos, me
sentia extremamente bem com a água quente acariciando minha pele delicadamente
do pé até minhas goteiras, e assim como a água caía, eu me afogava em
pensamentos, e por ampla consciência ambiental, fechava a torneira, e me
secava.
Saí do banho, comecei a me aprontar, deveria entregar
minha crônica ao jornal até ás dezesseis horas, eu trabalhava para um jornal
local, onde publicava crônicas em dias intercalados, foi uma vaga que consegui
por influência de minha mãe, que costumava a ocupar um dos cargos mais altos no
jornal. Como estava indo entregar meu trabalho, me vesti de forma em que
parecesse mais arrumada, geralmente me vestia como me convinha, mas sempre tratava
de parecer mais cuidadosa quando ia ao jornal, pois era meu sustento. Já tinha
tudo em mente, iria me alimentar, e ir ao jornal em seguida, tudo planejado,
terminei de me arrumar, peguei as chaves, carteira, maço de cigarros, minha
pasta, e desci. Na rua me sentia nauseada ao olhar para o prédio da calçada,
suas paredes agora pareciam escarlates, me lembrara de tudo o que acontecera na
noite passada, e sentia certas dores nas têmporas, com a mão na cabeça comecei
a me afastar lentamente do prédio, até que tomei outra rua.
segunda-feira, 7 de setembro de 2015
Continuação 3, Sem Filtragem.
Estava adormecida, e escutei um barulho irreconhecível
que me despertou de meu sono, acordei assustada, ainda sonolenta, sentia meus
olhos grudados pálpebra com pálpebra, mas me acalmei, supondo que era apenas o
vento que corria contra as frestas da janela, e uivava me chamando para ver as
luzes da noite, me dirigi trôpega então até a janela da cozinha, cogitei
acender a luz, mas imaginei que iria me causar dor nos olhos, então segui
apenas pela iluminação que a lua me proporcionava, cheguei à janela, e empurrei
com mais força para que ficasse completamente fechada, após isso feito, tudo
certo, me direcionei para o quarto andando pelo carpete, passando pela sala de
jantar, me sentia tonta de sono, sentia os olhos mais e mais pesados, até que
de repente, bati meu dedo mínimo na quina da mesa, esbravejei e xinguei calada,
agora com lágrimas nos olhos, irritada segui meu caminho até o quarto.
No quarto eu fiquei de frente para a cama e deixei que
meu corpo caísse desfalecido, e meus olhos se fecharam de súbito, quando estava
quase adormecida escutei novamente um barulho, mas dessa vez com maior
sonoridade, notei que não era no meu apartamento, mas possivelmente no recém
abandonado 302, senti um calafrio me subir a espinha, e fez com que meu corpo
despertasse por inteiro, eu morava no 402, acima do quarto 302. Após algum
tempo de um breve silêncio, pude ouvir o vento uivar, e as paredes estalarem, e
novamente sons vindo do andar de baixo, emudeci, diminui meu ritmo respiratório,
cogitei em verificar o que estava acontecendo, estava com medo demais para
isso, não conseguia mexer nem um músculo se quer para me mover da minha posição
atual, fiquei ali, estática, encoberta com apenas os olhos alertas de fora do
cobertor, espreitando a noite, até que o sol punha-se a se levantar no horizonte,
e os primeiros ruídos matinais de uma segunda feira brotavam, e em fim pude
adormecer.
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
Sobre nós.
Já faz tanto tempoMas ainda me lembroDaquele beijo lentoAntes de dezembroO tempo passouMeu coraçãoDesacelerouMas não esqueciO amor que um dia sentiQue me procura até hojeA lembrançaQue traz a esperançaE a saudadeJá não é mais vaidadeOnde está vocêMinha alegria de viver?
quinta-feira, 3 de setembro de 2015
Continuação 2 - Sem filtragem.
Após um período cabisbaixa, a multidão já havia se
dissipado, então recobrei meu ar, olhei para o céu, o sol parecia tímido e
doente, pouco se mostrava estre as densas nuvens negras, e brilhava em branco
pálido e opaco. Era inverno, e todas as folhas, caducifólias, bailavam no vento
e saíam por aí, sem rumo, ou pretensões, apenas queriam algo a alcançar, seja o
que fosse, era algo realmente invejável, a liberdade que a natureza possui.
Decidi então ir para casa, me sentia fatigada, levantei
demoradamente e segui pelos caminhos do parque até uma saída que me deixasse
mais próxima do meu apartamento. Fui caminhando pelas ruas vazias e inóspitas
de uma capital, faltava apenas virar a rua para que estivesse próxima de meu apartamento,
ouvia então um pequeno barulho de sirenes, que aumentavam quanto mais eu me
aproximava de casa, e via luzes intercaladas em vermelho refletirem pela rua a
atingir as vidraças de uma loja de chocolates em frente, que iluminava todo o
local, virei a rua, era um comboio de resgate dos bombeiros, e todos os
moradores do edifício na calçada, intrigados, haviam sido obrigados a deixar
seus apartamentos, a surpresa viria depois.
Via a agitação em frente ao condomínio, fui me
aproximando, com passos lentos e cautelosos, estava apreensiva, não entendia o
que estava ocorrendo, todos estavam distantes do prédio, ouvi dizerem que os
paramédicos estavam a caminho, podia sentir um leve cheiro de gás doméstico
vindo do prédio, estava desnorteada e confusa com a situação, a ambulância
chegou e ficamos esperando, via dentro do prédio grande agitação, vultos
corriam pela janela, barulhos de passos apressados vinham em direção à saída,
então saíram da porta alguns bombeiros na frente abrindo caminho, e atrás havia
dois homens segurando um corpo, estava sereno, com semblante adormecido, pude o
reconhecer, era o homem do apartamento 302, pouco se via ele, não saía de casa,
nunca fizera o menor ruído, não fazia ideia do que ocorrera.
Fui chegando mais próxima da ambulância, e pude prestar
atenção na conversa: –Nós encontramos remédios para dormir, a válvula do gás de
cozinha estava aberta, e todas as janelas fechadas, quando chegamos, ele já
estava apagado, disse o bombeiro para o clínico, o clínico estava com olhos
tristes, e olhava para o corpo enquanto media o seu pulso, respirou fundo,
suspirou e disse –Está sem pulso, acredito que tenha cometido suicídio ontem,
olhei então para aquele corpo sem vida, estirado sereno em minha frente, me
senti nocauteada como se tivesse recebido uma pancada na cabeça, por instantes,
era como se eu pudesse sentir a dor dele, pronto, foi isso, abalou meu mundo
por completo, ele havia tirado a sua própria vida.
Depois de ouvir isso, me recolhi para um canto escuro da
rua para me esconder, estava sem forças, não conseguia pensar em nada, nem em acender
um cigarro, ou qualquer coisa, apenas me encostei na parede e lá fiquei,
encarando o nada por um longo tempo, até que fosse permitido entrar no
edifício. No edifício ouvi a síndica falar com um homem da polícia –Ele tem um
irmão em algum lugar, acho que deveríamos notifica-lo, me senti um pouco
aliviada por saber que teria alguém para se lembrar dele por algo que não fosse
o seu ultimo ato. Subi para o quarto, e me joguei na cama, as badaladas da
catedral marcavam 12 horas, adormeci.
quarta-feira, 2 de setembro de 2015
Continuação, sem filtragem.
Agora com o cigarro aceso, caminhava para o parque,
gostava de ficar com o mesmo por um tempo parado na boca sem tragar, então o tragava
forte, e com a mão esquerda o tirava da boca, o que me era estranho, tendo em
vista que eu sou destra, o levava até a altura da cintura e batia as cinzas
suavemente, e mantinha a fumaça em minha e boca brincando com ela, até que a
expelia lentamente, eu a gostava de ver subir e desaparecer, e fui assim,
tragando até chegar no parque. O parque não era nenhuma maravilha, ficava em frente
à catedral, possuía alguns bancos com tinta desgastada, uma fonte no centro,
alguns brinquedos na areia para crianças, e tinha boa parte coberta por uma
grama sempre bem aparada, possuía também algumas árvores com folhas dissipadas
em seus galhos, já que a maioria se encontrava no chão, pois a chuva as levara
para lá, fui caminhando pelo parque através de folhas e gramas molhadas e
restos de industrializados até um banco que me dava visão completa da catedral,
sentei nesse banco onde eu podia observar de longe a missa, e acendi um
cigarro, usando o fósforo na mão esquerda também, me sentia uma a anticristo,
vilã dos bons costumes, impondo meus valores imorais e imundos em frente a uma
catedral.
Comecei a fitar a
igreja, e de minha distância eu podia ver as pessoas seguindo em filas para
receberem a hóstia e a benção, como porcos caminhando para o abatedouro, me
sentia péssima com toda aquela situação, me sentia péssima por eles, eu não me
aclamava ateia, me via como agnóstica, eu não podia provar nada, mas não
acreditava em nenhuma divindade, achava maior bobagem alguém acreditar em um
deus que permitia que o mundo fosse como é, com guerras, ódio, caos,
simplesmente não fazia o menor sentido para mim, religião deveria ser algo que
fosse para pacificar e unir o mundo, não para o destruir, sempre houveram
guerras sem sentido, pelo simples fato de certo povo não acreditar nos mesmos
dogmas de outro , simplesmente não me fazia sentido, era como um caroço, que me
sufocava, e eu não conseguia engolir.
O vento soprava forte, e maltratava meu cigarro, que
queimava com ímpeto, ouvi as badaladas do sinos, a missa havia terminado, as
pessoas saiam aos montes, e algumas caminhavam em minha direção, com seus
filhos, família, amigos, e passavam por mim, alguns me olhavam de canto de
olho, apenas para me pré-julgarem, eu não dava bola, e algumas crianças passavam
por mim dando gargalhadas, naquele momento eu me senti muito sozinha, as
crianças riam, e os adultos conversavam entre si, e eu me sentia estranha, algo
faltava em mim, eu era diferente deles, por que eu não poderia ser feliz como
eles? Por que não conseguia rir com eles? Sentia uma súbita vontade de chorar,
minha visão estava agora encoberta de um fluido salgado, que desejava escorrer
pelo meu rosto, e eu pensei para ele –Fique aí, não deixarei que ninguém o
veja, então comecei a fitar meus calçados, para que não notassem meus olhos.
terça-feira, 1 de setembro de 2015
Refinamento 1 - Adição 1
Era por volta das 2 da manhã, havia
perdido a noção de tempo há muito, eu espreitava desnorteada pela janela
observando as luzes nos apartamentos, e refletia sobre a vida quem habitava a
aquela distância, instintivamente já estava acendendo mais um cigarro, porém
antes de o colocar na boca, relutei, e jurei que seria o último, já havia
fumado outros 19, por você, agora eu tragaria o último, pelo fim, também por
relutância, foi o mais demorado, a noite estava fria, e o sereno corria pelo
céu, e se juntava aos resquícios de lágrimas secas em meu semblante, fingi não
me incomodar com aquilo que me causava certo desconforto na face, me sentia
nauseada, e com forte enxaqueca, possivelmente devido as tristezas que se
projetavam no mais profundo de meu ser durante as horas anteriores, quando me
ocorrera a metamorfose, e que ainda refletiam em minha alma.
Não queria dormir, pois sabia que nunca mais seria a mesma, o que eu era ficou para trás, em um passado agora distante, como se nunca tivesse existido tal ser que um dia fôra eu. Encontrava-me perdida, sentada à cabeceira da cama, agora cabisbaixa, as luzes da cidade pareciam cada vez mais distantes, e turvas, todos já dormiam, exceto os malditos e os miseráveis, estava agora exausta, minha visão além de turva, cambaleava, o sofrimento havia vencido meus limites humanos, e assim mesmo, derrotada pelo cansaço adormeci, como quem já não havia mais vida, dormi mal naquela noite, calafrios percorriam meu corpo, e espasmos me sacudiam a todo tempo.
Acordei ao som das badaladas da catedral, era domingo, dia de missa, fui novamente para a janela ver as crianças irem contra vontade em suas roupas engomadas, eu não era muito diferente delas, era o que queriam que eu fosse, vestindo uma máscara, e fazendo meu reles papel na sociedade, de acordo com o que decidiam. Algo me incomodava, sentia um buraco em meu torso, e sabia que não se tratava de fome, então decidi preparar chá, não tinha apetite apesar de não me recordar quando havia sido minha última refeição. Com o chá pronto, voltei a janela, agora chovia, e observava as pessoas tentarem se esconder da chuva correndo para as marquises, me esquivava de beber o chá, agora já frio o deixei de lado, senti vontade de fumar e me recordei que havia fumado todos os meus maços noite passada, cogitei ir a rua comprar cigarros, porém não possuía disposição alguma para ir ao mercado, e encarar as pessoas, então me deitei novamente olhando para o teto.
Não queria dormir, pois sabia que nunca mais seria a mesma, o que eu era ficou para trás, em um passado agora distante, como se nunca tivesse existido tal ser que um dia fôra eu. Encontrava-me perdida, sentada à cabeceira da cama, agora cabisbaixa, as luzes da cidade pareciam cada vez mais distantes, e turvas, todos já dormiam, exceto os malditos e os miseráveis, estava agora exausta, minha visão além de turva, cambaleava, o sofrimento havia vencido meus limites humanos, e assim mesmo, derrotada pelo cansaço adormeci, como quem já não havia mais vida, dormi mal naquela noite, calafrios percorriam meu corpo, e espasmos me sacudiam a todo tempo.
Acordei ao som das badaladas da catedral, era domingo, dia de missa, fui novamente para a janela ver as crianças irem contra vontade em suas roupas engomadas, eu não era muito diferente delas, era o que queriam que eu fosse, vestindo uma máscara, e fazendo meu reles papel na sociedade, de acordo com o que decidiam. Algo me incomodava, sentia um buraco em meu torso, e sabia que não se tratava de fome, então decidi preparar chá, não tinha apetite apesar de não me recordar quando havia sido minha última refeição. Com o chá pronto, voltei a janela, agora chovia, e observava as pessoas tentarem se esconder da chuva correndo para as marquises, me esquivava de beber o chá, agora já frio o deixei de lado, senti vontade de fumar e me recordei que havia fumado todos os meus maços noite passada, cogitei ir a rua comprar cigarros, porém não possuía disposição alguma para ir ao mercado, e encarar as pessoas, então me deitei novamente olhando para o teto.
Após um breve período fitando o teto, e
tentando desvencilhar minha mente de traiçoeiros pensamentos, pude notar que
chuva havia diminuído seu ritmo, agora já não agredia as janelas, suspirei
profundamente e decidi ir à uma lanchonete próxima, fiz então um esforço enorme
e um prolongado movimento para me levantar da cama, via meu reflexo no espelho,
manchas negras sombreavam meus olhos fundos, vesti uma peça de roupa que
pudesse me manter aquecida, recolhi as chaves e as coloquei no bolso, calcei botas,
e tomei o elevador. No elevador estava sozinha, suspirei e de súbito fechei
meus olhos por alguns instantes, com meus olhos agora abertos novamente, podia
ver a imagem de uma pequena garota, com olhos curiosos que fitavam o chão,
enquanto mordia os lábios, ela parecia um tanto quanto nervosa, após alguns instantes
fitando o chão, ela me disse, sem levantar a cabeça -- Do que você tem medo? -
Surpresa eu não a soube responder. -- Você tinha em si todos os sonhos do
mundo, então por que os escondeu?, continuou ela. -- Por que usa essa máscara?,
após essas palavras, me senti desnorteada, minha visão ficou turva, e me
desequilibrei, fiquei apoiada nas paredes do elevador por um tempo, até me recompor,
quando pude me recuperar, a garotinha já não estava mais lá, eu ainda não compreendera
o que ocorrera há pouco , o que me deixou pensativa, quem seria aquela garota?
Por que havida dito aquilo? Minha mente estava turbulenta, e meu coração estava
disparado, me vi espelho, eu estava pálida, sentia minha boca seca, e uma gota
de suor escorria por minha testa, estava apavorada, saí do elevador ainda
cambaleando e tomei rumo a rua.
Na rua, eu me sentia um fantasma, todos
passavam por mim e não me notavam, todos pareciam ocupados demais correndo de
um lado para o outro sem ir à lugar nenhum, com suas vidas e rotinas corridas e
estressantes, eu estava totalmente imersa em meus pensamentos que mal pude
notar o quarteirões que se passavam, marcados de humanizações cinzas e sujas, e assim cheguei em meu destino, uma lanchonete
antiga, com uma simpática faixada vermelha, agora já gasta e corroída pelo
tempo, não era muito frequentada, e por isso o ambiente me agradava, me sentei
próxima do balcão, e o atendente veio ao meu encontro, era um rapaz de boa
aparência, que sempre me atendia com um sorriso tímido no canto de sua boca e
olhos cortês, ele me perguntou se eu queria o mesmo de sempre, mas como eu não
possuía muitas energias, apenas acenei positivamente com o cabeça, por algum
motivo, eu tinha a boca emudecida, meus pensamentos me cercavam e me sufocavam,
me mantinham calada e cabisbaixa, sentia meus corpo pesado, tudo girava
novamente, as cores e nuances de vermelho e outras cores começaram a se fundir
em minha mente, tudo se embaralhava, quando repentinamente escutei -- Aqui está
seu pedido! Você está bem? Parece um pouco pálida, recobrei minha consciência e
agradeci, ele se virou de costas com olhos opacos, como se tivesse presenciado
um evento muito estranho, então comecei a fitar meu café e sanduíche, resolvi
me alimentar. Bebi o café por inteiro, estava quente e amargo, como eu gostava,
desceu minha garganta e me aqueceu por inteira, mas deixei uma fatia do
sanduíche intacto, não estava com muito apetite, fui então ao balcão para
acertar, cheguei lá e a atendente não pareceu me notar, estava lendo um desses
livros comerciais clichês feitos apenas para ganhar dinheiro, eu tinha uma
enorme repugnância por esses livros que não eram escritos com sangue, e
isso me deixou um pouco irritada, então forcei uma tosse, para que ela me
notasse, ela fez um "oh" assim que me viu, era sempre assim, ela
sempre desatenta em seu mundo falso, e eu precisava chamar sua atenção, me
sentia humilhada por isso, eu a franzi o cenho, paguei, e fui embora, sem abrir
a boca, estava irritada.
Saindo da lanchonete, cruzei a rua, precisava
tomar um caminho diferente, tinha de ir no mercado comprar cigarros e frutas,
em meu rumo havia uma rua paralela, onde tinha um viaduto, em baixo desse
viaduto havia um homem deitado, ele tinha olhos inexpressivos e desesperançosos
fixos em algum ponto distante, seu rosto era fortemente marcado pelas mazelas
de sua vida, aquilo me chateou muito, pois eu sabia que ele não era o único,
pelo mundo todo haviam pessoas que se escondiam delas mesmas, possuíam vergonha
do que eram, escondiam-se do mundo, do sol, e dos outros, não viviam a vida
para que se fosse vivida, viviam à espera do fim, para que logo a vida os fosse
tomada, pois para eles não havia sentido, a vida não valia a pena ser vivida,
aliás, o que era viver a vida? Isso eu não sabia, acho que nunca saberia,
sempre me perguntava sobre as coisas da vida, e nunca chegara a nenhuma
conclusão. Nesse momento me sentei em uma parada de ônibus, e me lembrei de
quando perguntei ao meu pai qual era o sentido da vida, e ele me respondeu que
era ser feliz, ao menos era o que todos almejavam, desde então nunca mais o
perguntei nada, o achei tolo por acreditar em tal futilidade, cheguei então a
conclusão que todos estávamos à deriva da vida, com perspectivas falsas, senti
uma grande necessidade de mais um cigarro, então segui meu caminho pela rua,
que me parecia torta, e suja.
A mercearia se aproximava, já via na porta o
senhor proprietário, era um homem de idade avançada, com problemas auditivos,
que tinha uma cara fechada para todos, certamente odiava o que fazia, só o
fazia por necessidade de dinheiro, ele se sentava na porta, em um cadeira de
balanço escutando o rádio que era possível se escutar a quarteirões de
distância, que noticiava sobre a guerra, e ele apenas acenava com a cabeça como
se concordasse com o que era noticiado, enquanto fumava seu cachimbo fedorento
, observava a chuva cair, e as pessoas passarem. Perdida em meus pensamentos
novamente me desvencilhei do mundo real, e quando me dei conta havia pisado
numa poça imunda, e notei que o velho me observava com seus olhos que pareciam
esperar por isso há muito tempo, sentia seus olhos rirem de mim, enquanto sua
boca continuava decrépita. Fui me aproximando mais e mais da mercearia, e ele
me acompanhava com os olhos, e se certificou que eu iria sacudir minhas botas
antes de entrar, entrei e ele não disse nada, fui direto para a fruteira, havia
pouca variedade, a guerra estava atrapalhando a produção de alimentos por todo
o país. Eu não concordava com a guerra, sempre acreditei que cada um deveria
fazer o que bem entende sem incomodar o outro, acho também muita tolice tirar a
vida de milhares por apenas pensarem de maneira diferente da sua, era algo que
realmente me deixava chateada, pensar em tirar a vida de alguém que um dia
poderia ser uma pessoa importante para o mundo me deixava realmente magoada,
terminei de escolher as poucas frutas que estava em boas condições, e rumei
para o caixa, a atendente era a mulher do velho, ela era um pouco mais bem
cuidada do que ele, e tinha um semblante agradável, sentia nela uma forte aura
materna, algo que me deixava confortável próxima dela, retruquei o sorriso
então, -- São 6 dólares no total; disse ela, eu acenei com a cabeça e entreguei
o dinheiro, peguei minhas compras e saí pela porta, e pude olhar pelos ombros
que ela ainda se mantinha sorrindo para mim, com seus olhos quase cerrados, foi
algo que me aqueceu o peito de alguma maneira.
Novamente na rua, com suas pichações e
imundices, via a chuva carregar nela sujeiras de meses, na cidade era assim,
tudo se corrompia, até mesmo a chuva, que ao descer das nuvens já era
contaminada por detritos que humanos produzem, e ao chegar ao seu destino, era
violentamente rebatida por concretos cinzentos, as árvores não possuíam espaço
para crescer, a natureza não se proliferava, era completamente rebatida pela
humanidade, com esses pensamentos, decidi passar por um parque que havia não
muito longe de onde eu estava, parques são assim, uma maneira que os homens
encontraram de sentirem menos culpados por corromperem a natureza. Eu gostava
da natureza, fazia com que eu me sentisse conectada com o todo o mundo, com o
passado, o presente, e o futuro, com toda vida que já passou, e passará por
nosso planeta, era agradável estar em meio à natureza, sentia que voltara de
onde eu vim.
Me escondi em baixo de uma marquise, para
acender um cigarro, mas o vento forte trazia com ele folhas, ar gelado, e
gotículas, que maltratavam meu fogo. Acendi o cigarro, e dei uma longa
tragada, sentia o sabor adocicado descer por minha traqueia e passear por meus
pulmões, então expeli uma densa fumaça, que bailou no ar e sumiu junto à
paisagem cinza.
segunda-feira, 31 de agosto de 2015
Rabisco
Era por volta das 2 da manhã, havia perdido a noção de tempo há muito, eu espreitava desnorteada pela janela observando as luzes nos apartamentos, e refletia sobre a vida quem habitava a aquela distância, instintivamente já estava acendendo mais um cigarro, porém antes de o colocar na boca, relutei, e jurei que seria o último, já havia fumado outros 19, por você, agora eu tragaria o último, pelo fim, também por relutância, foi o mais demorado, a noite estava fria, e o sereno corria pelo céu, e se juntava aos resquícios de lágrimas secas em meu semblante, fingi não me incomodar com aquilo que me causava certo desconforto na face, me sentia nauseada, e com forte enxaqueca, possivelmente devido as tristezas que se projetavam no mais profundo de meu ser durante as horas anteriores, quando me ocorrera a metamorfose, e que ainda refletiam em minha alma. Não queria dormir, pois sabia que nunca mais seria a mesma, o que eu era ficou para trás, em um passado agora distante, como se nunca tivesse existido tal ser que um dia fôra eu. Encontrava-me perdida, sentada à cabeceira da cama, agora cabisbaixa, as luzes da cidade pareciam cada vez mais distantes, e turvas, todos já dormiam, exceto os malditos e os miseráveis, estava agora exausta, minha visão além de turva, cambaleava, o sofrimento havia vencido meus limites humanos, e assim mesmo, derrotada pelo cansaço adormeci, como quem já não havia mais vida, dormi mal naquela noite, calafrios percorriam meu corpo, e espasmos me sacudiam a todo tempo. Acordei ao som das badaladas da catedral, era domingo, dia de missa, fui novamente para a janela ver as crianças irem contra vontade em suas roupas engomadas, eu não era muito diferente delas, era o que queriam que eu fosse, vestindo uma máscara, e fazendo meu reles papel na sociedade, de acordo com o que decidiam. Algo me incomodava, sentia um buraco em meu torso, e sabia que não se tratava de fome, então decidi preparar chá, não tinha apetite apesar de não me recordar quando havia sido minha última refeição. Com o chá pronto, voltei a janela, agora chovia, e observava as pessoas tentarem se esconder da chuva correndo para as marquises, me esquivava de beber o chá, agora já frio o deixei de lado, senti vontade de fumar e me recordei que havia fumado todos os meus maços noite passada, cogitei ir a rua comprar cigarros, porém não possuía disposição alguma para ir ao mercado, e encarar as pessoas, então me deitei novamente olhando para o teto.Após um breve período fitando o teto, e tentando desvencilhar minha mente de traiçoeiros pensamentos , pude notar que chuva havia diminuído seu ritmo, agora já não agredia as janelas, suspirei profundamente e decidi ir à uma lanchonete próxima, fiz então um esforço enorme e um prolongado movimento para me levantar da cama, via meu reflexo no espelho, manchas negras sombreavam meus olhos fundos, vesti uma peça de roupa que pudesse me manter aquecida, recolhi as chaves e as coloquei no bolso, calcei sandálias, e tomei o elevador. No elevador estava sozinha, suspirei e de súbito fechei meus olhos por alguns instantes, com meus olhos agora abertos novamente, podia ver uma pequena garota, de olhos curiosos que fitava o chão enquanto mordia os lábios, ela parecia um tanto quanto nervosa, após alguns segundos fitando o chão, ela me disse -- Do que você tem medo? - Surpresa eu não a soube responder. -- Você tinha em si todos os sonhos do mundo, então por que os escondeu?, continuou ela. -- Por que usa essa máscara?, após essas palavras, me senti desnorteada, minha visão ficou turva, e me desequilibrei, fiquei apoiada nas paredes do elevador por um tempo, até me recompor, quando pude me recuperar, a garotinha já não estava mais lá, eu ainda não entendera o que ocorreu há pouco tempo atrás, o que me deixou pensativa, saí do elevador e tomei rumo a rua,. Na rua, eu me sentia um fantasma, todos passavam por mim sem me notar, todos pareciam preocupados demais correndo de um lado para o outro sem ir à lugar nenhum, eu estava totalmente imersa em meus pensamentos que mal pude notar o quarteirões que se passavam, e assim cheguei em meu destino, uma lanchonete antiga, não era muito frequentada, e por isso o ambiente me agradava, me sentei próxima do balcão, e o atendente veio ao meu encontro, era um rapaz de boa aparência, que sempre me atendia com um sorriso tímido no canto de sua boca e olhos cortês, ele me perguntou se eu queria o mesmo de sempre, mas como eu não possuía muitas energias, apenas acenei positivamente com o cabeça, por algum motivo, eu tinha a boca emudecida, meus pensamentos me cercavam e me sufocavam, me mantinham calada e cabisbaixa, sentia meus corpo pesado, tudo girava novamente, quando repentinamente escutei -- Aqui está seu pedido! Você está bem? Parece um pouco pálida, recobrei minha consciência e agradeci, ele se virou de costas com olhos opacos, então comecei a fitar meu café e sanduíche, resolvi me alimentar. Bebi o café por inteiro, mas deixei uma fatia do sanduíche intacto, fui ao balcão, cheguei lá e a atendente não pareceu me notar, estava lendo um desses livros clichês feitos apenas para ganhar dinheiro, eu tinha uma enorme repugnância por esses livros que não eram escritos com sangue, e isso me deixou um pouco irritada, então forcei uma tosse, para que ela me notasse, ela fez um "oh" assim que me viu, era sempre assim, e eu a franzi o cenho, paguei, e fui embora, agora irritada. Na rua novamente, tomei um caminho diferente, tinha que ir no mercado comprar cigarros e frutas.Saindo da lanchonete, cruzei a rua, havia um homem deitado em baixo de um viaduto, ele tinha olhos inexpressivos fixos em algum ponto distante, seu rosto era fortemente marcado pelas mazelas de sua vida, aquilo me chateou muito, pois eu sabia que ele não era o único, pelo mundo todo haviam pessoas que se escondiam delas mesmas, possuíam vergonha do que eram, escondiam-se do mundo, do sol, e dos outros, não viviam a vida para que se fosse vivida, viviam à espera do fim, para que logo a vida os fosse tomada, pois para eles não havia sentido, a vida não valia a pena ser vivida, aliás, o que era viver a vida? Isso eu não sabia, acho que nunca saberia, sempre me perguntava sobre as coisas da vida, e nunca chegara a nenhuma conclusão. Nesse momento me sentei em uma parada de ônibus, e me lembrei de quando perguntei ao meu pai qual era o sentido da vida, e ele me respondeu que era ser feliz, ao menos era o que todos almejavam, desde então nunca mais o perguntei nada, o achei tolo por acreditar em tal futilidade, cheguei então a conclusão que todos estávamos à deriva da vida, com perspectivas falsas, senti uma grande necessidade de mais um cigarro, então segui meu caminho pela rua, que me parecia torta, e suja.A mercearia se aproximava, já via na porta o senhor proprietário, era um homem de idade avançada, com problemas auditivos, que tinha uma cara fechada para todos, certamente odiava o que fazia, só o fazia por necessidade de dinheiro, ele se sentava na porta, em um cadeira de balanço escutando o rádio que era possível se escutar a quarteirões de distância, que noticiava sobre a guerra, e ele apenas acenava com a cabeça como se concordasse com o que era noticiado, enquanto fumava seu cachimbo fedorento , observava a chuva cair, e as pessoas passarem. Perdida em meus pensamentos novamente me desvencilhei do mundo real, e quando me dei conta havia pisado numa poça imunda, e notei que o velho me observava com seus olhos que pareciam esperar por isso há muito tempo, sentia seus olhos rirem de mim, enquanto sua boca continuava decrépita. Fui me aproximando mais e mais da mercearia, e ele me acompanhava com os olhos, e se certificou que eu iria sacudir minhas botas antes de entrar, entrei e ele não disse nada, fui direto para a fruteira, havia pouca variedade, a guerra estava atrapalhando a produção de alimentos por todo o país. Eu não concordava com a guerra, sempre acreditei que cada um deveria fazer o que bem entende sem incomodar o outro, acho também muita tolice tirar a vida de milhares por apenas pensarem de maneira diferente da sua, era algo que realmente me deixava chateada, pensar em tirar a vida de alguém que um dia poderia ser uma pessoa importante para o mundo me deixava realmente magoada, terminei de escolher as poucas frutas que estava em boas condições, e rumei para o caixa, a atendente era a mulher do velho, ela era um pouco mais bem cuidada do que ele, e tinha um semblante agradável, sentia nela uma forte aura materna, algo que me deixava confortável próxima dela, retruquei o sorriso então, -- São 6 dólares no total; disse ela, eu acenei com a cabeça e entreguei o dinheiro, peguei minhas compras e saí pela porta, e pude olhar pelos ombros que ela ainda se mantinha sorrindo para mim, com seus olhos quase cerrados, foi algo que me aqueceu o peito de alguma maneira.
Assinar:
Postagens (Atom)